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O QUE VOCÊ FAZ COM SUAS ESCOLHAS?

Tem dias que eu me pego olhando pra algumas das minhas fotos e pensando: UAU! Nem acredito que fui eu que vivi e registrei isso… que privilégio!
Pessoas que vivem grandes aventuras tendem a normalizar coisas extraordinárias. Acho que acontece a mesma coisa de diferentes formas com grandes artistas, atletas, mestres, ou com pessoas com muito poder aquisitivo. Embora uma coisa não tenha relação com a outra, estamos falando de algum tipo de abundância. A qual normalizamos.


É uma verdade velada e potencialmente arrogante, mas hora ou outra nossa tendência é achar normal fazer uma trilha em plena segunda-feira, conhecer sei lá quantos países, vender brigadeiros pra seguir viagem, ter a liberdade de ir e vir a qualquer momento, ir acampar, viajar por meses ou anos, viver uma infinitude de experiências inimagináveis num ritmo completamente diferente do resto do mundo. Nossa! Causa até um certo desconforto ler isso, né?! Como se fosse mais ligado ao dinheiro do que à escolhas. Como se fosse uma viagem do ego. Como se fosse sorte.

“O sol brilhou pra mim, é verdade. Mas minha história tem tanto a ver com perseverança e esforço, quanto com talento e sorte. Eu desejei que acontecesse. Tomei a vida em minhas mãos, aprendi com quem podia, agarrei cada oportunidade que tive e moldei meu caminho passo a passo!” – li isso em um livro esses dias e senti como se aquelas palavras fossem minhas, mas era a história de um grande milionário. Riqueza é algo tão relativo, né?! ⠀⠀ Eu não sei em que momento viajar passou a ser sinônimo de ostentar. É tão estranho pensar que se tornou um modo de consumo e não uma experiência humana. No fundo a gente sabe que pouco importa quantos países você conheceu, mas sim quanto você se permitiu viver. Até hoje me pergunto como eu consegui morar por quase 2 anos no caos de Nova Délhi vivendo com R$800 por mês em umas 10 pessoas dentro de um apartamento que não tinha nem mesa. Eu fui em busca de um choque cultural, mas a verdade é que eu queria tentar viver uma realidade diferente da minha e ver quanto eu tinha pra descobrir ali.

E assim eu fui me acostumando… a recriar minha história quantas vezes fosse necessário. Não é porque eu era fresca que eu não poderia morar na India. Não é porque eu tinha tantos medos que eu não poderia ser corajosa. Não é porque eu nunca pratiquei esporte que eu não poderia subir uma montanha. Não é porque eu sou mulher que eu não poderia ser fotógrafa de viagens. Não é porque feriram minha autoestima que eu não poderia me amar. Não é porque eu era aquela menina tímida de cidade de interior que eu não poderia ganhar o mundo. Não é porque eu ganhei o mundo que eu não posso querer voltar. Eu sei que me acostumei com tudo isso, não tenho como negar. Levando esse estilo de vida há tantos anos, isso não é difícil. Mais do que uma diversão, se tornou minha profissão e meu modo de viver. Reconheço as sombras das minhas escolhas e me esforço todos os dias pra lembrar tudo de (extra) ordinário que vivi e sigo vivendo. Mas algo que eu nunca esqueço é quanto eu desejei tudo isso e como foi longa a trilha até aqui.

Não me entenda mal. Eu não vim aqui me gabar de coisas incríveis que já me aconteceram. Eu já provei o gosto amargo da minha própria arrogância e custei a perceber que não sou melhor do que ninguém só porque viajar se tornou minha profissão. São apenas escolhas diferentes de vidas igualmente belas. Não é à toa que dizem que viajar é tão bom quanto voltar pra casa, né?! E é verdade. Mas antes que você se compare com a vida de outra pessoa, queria te contar que eu desenhei cada detalhe da minha liberdade. Desejei ela desde que me entendo por gente. Fiz loucuras que às vezes nem eu consigo acreditar pra poder viver cada privilégio que eu vivo hoje. Me orgulho de cada passo que eu dei até aqui sem fazer a menor ideia de onde eles me levariam. Em tempo, queria te pedir um favor: permita-se sonhar. Seja lá o que for, SONHE. Pensar grande dá o mesmo trabalho que pensar pequeno. Quanto mais íngrime e longo for seu caminho, melhor será a sua vista no cume da montanha. E não esqueça: nós não conseguimos nos tornar aquilo que nunca sonhamos ser de alguma forma. Com todas as dores e delícias de sermos quem somos.