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UM CÉU DE BRIGADEIRO

Quando eu conto que aprendi astrofotografia na prática, sem manjar nada de técnica fotográfica, ninguém acredita. Eu fui vivendo, percebendo, observando, tentando, crescendo e – principalmente – errando. Sempre achei que não fosse pra mim. Tenho uma dificuldade absurda de dominar aquela linguagem técnica que complica mais do que explica, mas meu estilo de vida foi abrindo um novo mundo de possibilidades e percepções onde viver é muito mais importante do que saber.

Me lembro até hoje das primeiras fotos de estrelas que eu fiz. Era 2016 e eu estava no Atacama pela primeira vez.
Eu sequer sabia reconhecer o que era a via láctea, mas estava ansiosa pelo que o céu mais estrelado do mundo tinha pra me ensinar. Na época eu não tinha dinheiro pra nada, e eu investia em equipamentos fotográficos com o pouco que eu tinha. Foi tudo muito aos poucos. Tripé era supérfluo e caro demais. Mesmo se eu tivesse um, ele provavelmente teria ficado pra trás com o peso da mochila que tava lotada de latas de leite condensado. Pra quem não sabe, minha primeira vez no Atacama foi com passagem só de ida, uns trocados no bolso, um mochilão cheio de ingredientes e a missão de vender brigadeiros pra seguir viagem. E que viagem, hein?!

Em uma doce tarde na rua Caracoles, meu brigadeiro chegou no gosto de um astrônomo. Ele fazia tours astronômicos com grupos de turistas e precisava de alguém para fazer tradução de espanhol pra inglês durante o tour. Papo vai, papo vem, e lá fui eu. Confesso que a tradução não foi das melhores (não sei explicar astronomia nem em português), mas me garanti na simpatia e levei minha câmera pra praticar. Depois daquela noite, passei 2 meses ouvindo sobre astronomia e vendendo fotos noturnas para os turistas. Na cara de pau, sem sequer ter um tripé, apoiando a câmera em um monte de pedras e suando frio pra fazer o melhor com o que eu tinha.

Era um sonho. Mais um daqueles sonhos distantes que eu achava que não seria capaz de conquistar.
Hoje olho aquelas fotos e a única beleza que eu vejo é da minha ingenuidade e coragem em tentar. Talvez não haja beleza maior que essa, né?! A verdadeira amadora, aquela que faz por amor. E esse é o tipo de coisa que só quem também ama entende a paciência e dedicação que é preciso ter.

Bom, como já se sabe, os brigadeiros abriram espaço para muitas novas aventuras. De lá pra cá, foram mais de 20 expedições criando memórias e aperfeiçoando meu olhar em uma verdadeira escola a céu aberto. Entre vinhos, risadas, fogueiras, marshmallows e alguns perrengues em busca da composição perfeita para uma chuva de estrelas, as imagens cumprem bem seu papel de eternizar histórias. E cá entre nós, acho fascinante mostrar para as pessoas o mundo do jeito que eu vejo. Ninguém precisa fotografar pra isso, basta VIVER.

Hoje já vivi suficiente pra saber que me relaciono de um jeito diferente com a fotografia. Mais do que ficar queimando neurônios com informações técnicas, cada foto faz jus ao que eu consigo criar com os caminhos que a vida me apresenta. A sorte é uma encruzilhada onde a oportunidade e a preparação se encontram.