UM NOVO ANO, UMA NOVA FORMA DE OLHAR
Eu decidi passar a virada de ano de 2023 para 2024 sozinha.
2023 foi um ano que passei completamente cercada de pessoas que movimentaram muita coisa em mim – as boas e as não tão boas assim. No entanto, sinto que foi o ano que mais me percebi sozinha. Eu não falo sobre se sentir só, mas sobre se perceber.
São coisas diferentes. Quem já viveu, sabe.
É como se esse ano tivesse me dado a real da vida e me apresentado a verdadeira independência.
Me vi madura. Me vi adulta. Me vi mulher. E me vi sozinha também. No momento que o bicho pega, de nada adianta ter uma multidão ao meu redor se eu não souber arregaçar as mangas e me bancar. Quem deita a cabeça no travesseiro comigo todos os dias é a única pessoa que sente o que eu sinto.
E não há quem cuide do que vem de dentro se não eu mesma.
Existe uma linha tênue entre a solitude e a solidão, que pra mim são como brincar de equilíbrio em uma corda bamba.
Exige coragem escolher estar sozinha quando você tem a sensação de ser a única pessoa do planeta fazendo isso por opção. Eu sei que não sou, mas é essa sensação que dá com tamanha ansiedade do mundo inteiro soltando fogos por um novo ano que se inicia.
Nunca vi muito sentido em ficar fazendo mil pedidos na virada de um ano que nós mesmos criamos, mas a passagem de ano é uma forma de separarmos a vida em pequenas temporadas, e isso dá um certo alívio. É como se disséssemos pra nós mesmos “esse ano não deu pra ficar rica e nem pra achar o amor da minha vida, mas depois da meia-noite vou começar tudo de novo e terei uma nova chance!”
Me dei conta de que passei 37 anos me forçando a estar rodeada de gente na virada do ano pelo simples fato de que é estranho querer estar sozinha quando ninguém está. Você se pega justificando pra que ninguém sinta pena de você ou, quiçá, pra que você mesma não a tenha. Esse ano foi diferente.
Já era fim de tarde do dia 31 e eu me peguei sentada no sofá com um sorriso besta e um olhar distante. Aquela cara que a gente fica quando sente orgulho de si. Minha cabeça me dizia que eu tinha que largar a preguiça e sair com o pessoal, mas meu coração me lembrava que eu estava exatamente onde eu gostaria de estar.
Pertencimento.
Antes que a solidão viesse invadir minha solitude, eu me mexi. Coloquei uma música boa, fiz uma comida gostosa, escrevi bastante sobre o ano que ficou pra trás, sobre os dias difíceis que essa casa acolheu. Sai pra caminhar um pouco antes da meia noite. Eu moro bem no alto da montanha então as estradas ficam tomadas por nuvens. Saí andando sem um único barulho além dos sons da natureza. E de repente, fogos distantes que enchiam a floresta e as nuvens de clarões como se fossem relâmpagos. Que jeito lindo de ver o mesmo céu brilhando tanto esperando um novo ano chegar
No fundo, tudo que eu sempre quis era mostrar o mundo com os meus olhos. Cada pessoa que confia em mim e se entrega pra essa experiência é um olhar que se abre pro novo, conexões que acontecem, sentimentos que afloram, vidas que pulsam, histórias que se transformam.
O novo acontece a cada segundo, só precisamos abrir a mente para enxergar além do óbvio.
Viver é sempre um convite para o inusitado.
Como tem sido o seu olhar sobre o que a vida traz de novo?